terça-feira, 4 de outubro de 2011

A bunda quando abunda

Renoir - Estudo para Banho

Sui generis, considero a bunda uma das partes mais bonitas e excitantes do corpo da mulher. Flama os olhares por onde passa, pois ela e somente ela oferece aquele gingado malevolente que desperta o imaginário masculino. Propriedade da morena, negra, mulata, loira... pouco importa. Admiro-as todas e mais do que tudo, respeito-as em quaisquer instâncias por onde trafeguem a graça e a beleza feminina.
Não precisa ser famosa e nem adianta ser somente perfeita nas formas. Muito menos é necessário que se apresente desnuda. A bunda gostomosa (permitam-me o neologismo de gostosa+formosa) deve ter personalidade. Inesquecível, será sempre "a bunda", nunca "uma bunda". Firme e altiva precisa dizer a quem se embevece com o panorama divino: "Olha-me, mas só chegarás a mim SE e QUANDO EU quiser!" E só.
Algumas bundas, por tão singulares, parecem ter vida própria - caminham pelas ruas, sobem escadas, mergulham nos mares, deitam-se nas areias da praia, escolhem seus biquinis e suas roupas, alheias ao tempo e ao vento. Independente do desejo de quem as enverga, provocam pensamentos reflexivos comoventes às suas vítimas. Paradoxalmente, são o equilíbrio dos corpos das deusas que as ostentam e o desequilíbrio hormonal que por instantes acomete quem as olha e cobiça.
Reitero o que disse acima – respeito-as sempre. [Mas, cá entre nós, a bunda quando abunda... inunda!]. É isto.
Finalizo oferecendo-lhes (aos leitores e não às bundas) um poema de Carlos Drumond de Andrade, que costumo chamar de Tratado sobre a Bunda.
A bunda, que engraçada
Carlos Drumond de Andrade
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda
redunda.

Música de fundo: Ivo Pogorelich plays Beethoven's Fur elise

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